CONFERÊNCIAS EM LISBOA
14 de Janeiro | 16:00
"Porto, 1916" Um olhar pelos recortes de imprensa da década de 1910 ajuda a mapear a multiplicidade de iniciativas no meio artístico e cultural do Porto, animado por vários espaços vocacionados para o entretenimento. Um desses pólos de entretenimento, situado no centro da cidade e com infraestruturas para acolher exposições, concertos e sessões de cinema, era o Jardim Passos Manuel. Ao aprofundar a história e as especificidades deste espaço onde Amadeo expôs há cem anos, lançam-se novas leituras sobre a atribulada receção do pintor no Porto. com Ana Paula Machado (MNSR), Elisa Soares (MNSR), Sónia Moura (FBAUP) e Marta Soares (FCSH/NOVA) moderação: Aida Rechena (MNAC) sessão no MNAC 21 de Janeiro | 15:15 "À descoberta da Liga Naval de Lisboa" Em Dezembro de 1916, um mês depois da exposição no Porto, Amadeo de Souza-Cardoso inaugurou a sua exposição individual em Lisboa, na Liga Naval Portuguesa, situada no Palácio Calhariz-Palmela. Ao contrário do Jardim Passos Manuel, propenso a eventos massificados, a Liga Naval no período da exposição de Amadeo era um espaço elitista que acolhia temporariamente concertos, exposições e conferências. A exposição de Amadeo ali instalada contrastava com uma exposição permanente de história natural (a coleção oceanográfica de D. Carlos I, actualmente visitável no Aquário Vasco da Gama) e dialogava com um enquadramento político especialmente conotado com a reação à I República. Após uma contextualização da Liga Naval Portuguesa por Fernando David e Silva, as comunicações abordarão aspectos da história natural e de eventos na Liga Naval. João Oliveira Duarte sondará ligações entre história natural e memória, Manuel Deniz Silva interpretará uma conferência de Luís Freitas Branco apresentada na Liga Naval, Pedro dos Santos Sarreirita analisará o manifesto de Almada Negreiros em defesa da exposição de Amadeo à luz da historiografia dos descobrimentos e Marta Soares reequacionará a exposição de Amadeo em Lisboa a partir desta teia de relações. com Fernando David e Silva (FLUL), João Oliveira Duarte (FCSH/NOVA), Manuel Deniz Silva (INET/FCSH/NOVA), Pedro dos Santos Sarreirita (FLUL) e Marta Soares (FCSH/NOVA) moderação: Margarida Brito Alves (IHA/FCSH/NOVA) sessão na sequência de visita, às 14:30, à exposição "O príncipe que sonhava com o fundo do mar" orientada por Maria José Pitta e Paula Leandro no Aquário Vasco da Gama inscrições até 19 de Janeiro para: [email protected] 2,50€ (inclui 50% de desconto na visita ao Aquário Vasco da Gama e entrada livre no Museu de Marinha) 28 de Janeiro | 16:00 "Amadeo, loucura, Orpheu, Almada" Nalguma imprensa de 1916, a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso foi entendida como sintoma de loucura e eco da revista Orpheu, que, no ano anterior, tinha sido alvo de intensa polémica. Para além de acionar uma afinidade com Orpheu e o modo como os seus artistas foram recebidos, a exposição de Amadeo em Lisboa proporcionou o encontro entre Amadeo e Almada Negreiros. Dessa amizade, firmada em novembro e dezembro de 1916, resultou o livro K4 O Quadrado Azul e o extraordinário apoio a Amadeo por Almada, que inaugurou, num manifesto, um discurso apologético em torno do pintor e da exposição na Liga Naval. O diagnóstico de loucura tão presente na crítica da época e o entusiástico acolhimento de Almada Negreiros complementam a receção da exposição e cruzam-se inevitavelmente com Orpheu. com Stefanie Franco (IHA/FCSH/NOVA) e Mariana Pinto dos Santos (IHA/ FCSH/NOVA) moderação: Fernando Cabral Martins (FCSH/NOVA) sessão após visita à exposição, às 15:00, orientada para a relação entre Amadeo e Orpheu por Marta Soares, curadora da exposição sessão no MNAC 11 de Fevereiro | 16:00 "O círculo da Corporation Nouvelle" As exposições individuais de Amadeo de Souza-Cardoso, no Porto e em Lisboa no final de 1916, surgem no rescaldo do cancelamento de uma série de projetos concebidos por um coletivo de artistas idealizado por Robert e Sonia Delaunay, instalados em Portugal em 1915 e 1916.Corporation Nouvelle [Nova Corporação] foi o nome escolhido para esse coletivo constituído pelo casal Delaunay, Amadeo, Eduardo Viana, José Pacheko, Almada Negreiros, Blaise Cendrars, Apollinaire, entre outros artistas. Perante este grupo, impõem-se algumas questões. Que base (técnica e formal) uniu (ou fez divergir) estes artistas? Que objetivos foram definidos inicialmente? Que estratégias de promoção e de redes internacionais se estabeleceram? E, finalmente, o que terá inviabilizado os projetos dos artistas portugueses com o casal Delaunay? com Ana Vasconcelos (FCG) e Joana Cunha Leal (IHA/FCSH/NOVA) moderação: Foteini Vlachou (IHA/FCSH/NOVA) sessão no MNAC 18 de Fevereiro | 16:00 "Novas perspetivas, memória e desvio: o intenso trabalho de Amadeo durante o período da Corporation Nouvelle" É no exílio forçado em Portugal, a partir de 1914, que o trabalho de Amadeo de Souza-Cardoso opera uma revisão das principais problematizações das vanguardas modernistas de Paris que a sua pintura havia experimentado num processo formativo e de descoberta. Durante este período, sobretudo a partir de 1916, ensaia relações específicas entre cubismo, simultaneísmo e futurismo, posicionando-se gradualmente numa margem das tensões com que estes movimentos se confrontavam para construir a partir das relações que entre eles estabelece uma outra possibilidade para pintura modernista. por Pedro Lapa (FLUL) moderação: Joana Cunha Leal (IHA/FCSH/NOVA) sessão no MNAC 25 de Fevereiro | 16:00 "O que é uma cópia e o que é uma ilustração? As respostas de Amadeo na sua Légende de Saint Julien l’Hospitalier" Em Abril de 1877, Gustave Flaubert publicou um pequeno volume intitulado Trois Contes, em rigor, a sua última obra acabada. O segundo conto chama-se “La Légende de Saint Julien l’Hospitalier”. Os outros são “Un coeur simple” e “Hérodias”. A ordem dos contos não é cronológica no que se refere à sua redacção. “La Légende” foi o primeiro a ser escrito, e numa celeridade inhabitual, entre Setembro de 1875 e Fevereiro de 1876. É provável que isso se deva à familiaridade longuíssima e intensa que ele teve com a história do santo: “Esta é a história de São Julião Hospitaleiro, mais ou menos como é contada num vitral de igreja, na minha terra”. Nestas palavras finais do conto Flaubert convida o leitor a uma investigação hermenêutica. Executadas durante a sua estadia na Bretanha no Verão de 1912 (muito provavelmente concluídas em Paris), ano de uma fertilidade imensa para o pintor, a cópia integral a pincel e a ilustração de Amadeo Souza-Cardoso correspondem àquele desafio: várias estadias por lugares flaubertianos, particularmente Pont-l’Abbé e Rouen, e o desenvolvimento do interesse pelos primitivos e pela heráldica medieval. Na verdade, nos anos que antecedem 1912, e culminando na intensidade inesgotável desse ano, Amadeo Souza-Cardoso anda a ocultar a vibração das emoções através da concentração no desenho, ascese bem conhecida de Flaubert. Ambos sabem que a vibração é espontânea e o desenho um esforço, e é precisamente o desenho que protege a vibração de se auto-devorar. Na Légende de Saint Julien l’Hospitalier, a substância reflexiva esmaltada e absorvente, própria do estilo flaubertiano, faz de cada parágrafo, e mesmo de cada período, um vitral bem delimitado, brilhante, coeso e mágico. Nenhum artista leitor de Flaubert compreendeu melhor isto do que Amadeo Souza-Cardoso. Por um lado, a inspiração do seu Saint Julien vem claramente da arte dos copistas medievais, mas a cópia é já por si própria interpretação: eis a novidade desta obra singular. Por outro lado, entre as palavras copiadas a pincel e os desenhos vemos soltarem-se subtis e secretas interferências, impedindo que a ilustração se afogue no sentido repulsivo que Flaubert lhe atribui. Se é impossível provar que Amadeo o conhecesse, é seguríssimo que o seu “exemplar único-original” não correspondia aos padrões correntes do que fosse uma ilustração, inscrevendo-se num contexto moderno de experimentação das relações entre escrita e pintura, no seu caso inseparáveis da questão da identidade. E é precisamente neste ponto que o trabalho de copista, intérprete visionário e ilustrador, de Amadeo se revela poderoso. por Maria Filomena Molder (FCSH/NOVA) moderação: João Oliveira Duarte (FCSH/NOVA) sessão no MNAC entrada pela Rua Serpa Pinto, 4 Organização Aida Rechena (MNAC) João Oliveira Duarte (FCSH/NOVA) Maria João Vasconcelos (MNSR) Marta Soares (FCSH/NOVA) Raquel Henriques da Silva (IHA/FCSH/NOVA) Abreviaturas IHA/FCSH/NOVA - Instituto de História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa MNAC - Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado MNSR - Museu Nacional de Soares dos Reis |
Amadeo de Souza-Cardoso, (Máscara de aço)
c. 1914-1915 Óleo s. tela 79,7 x 60 cm Catálogos das exposições de 1916: nº 1? Col. particular dep. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso - Câmara Municipal de Amarante © Paulo Costa, Museu Calouste Gulbenkian - Colecção Moderna |