Conversa em ZIG ZAG: da curadoria de Amadeo à curadoria do espaço crítico
22 de Fevereiro | 13:00
Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado Maria do Mar Fazenda em conversa com Daniel Melim, Dealmeida Esilva, Isabel Simões e Mariana Gomes na exposição AMADEO DE SOUZA-CARDOSO / PORTO LISBOA / 2016–1916 entrada livre A curadoria de uma exposição pelo próprio artista, na época de Amadeo, é um acontecimento absolutamente inovador. Apesar de ele não ter sido referido como curador, em parte porque esta figura ainda não tinha sido profissionalizada, hoje, com o reconhecimento do trabalho realizado por Amadeo nas mostras de 1916, podemos afirmar que o artista foi curador do seu próprio trabalho, tese que a presente exposição veicula. Amadeo, para além de ter produzido as obras, selecionou-as e transportou-as, escolheu e alugou os espaços onde viriam a ser apresentadas, desenhou a sequência e a sua disposição no espaço expositivo, escreveu o comunicado de imprensa, editou o catálogo, e, podemos ainda, fantasiar sobre as visitas à exposição que terá acompanhado e especular em torno de um ciclo de conferências organizado no âmbito da exposição, tal como o concebido pelas curadoras para o contexto desta sua exposição, hoje. O assunto e o relevo da figura do Curador no contexto artístico contemporâneo, com especial preponderância a partir da década de 60, e mesmo a nomeação de Artista-Curador, designação que surge, um pouco mais tarde, do entroncamento da curadoria com a prática artística, é uma abordagem amplamente desenvolvida noutros lugares e não nos parece ser a mais fértil na aproximação que nos propomos trazer. Mais do que posicionarmo-nos numa eventual historiografia de exposições, interessa sondar o processo curatorial artístico – que estamos em crer extravasa muito o «accrochage» de obras no espaço expositivo – que identificamos não apenas em momentos que emergem no espaço público, nomeadamente, em exposições. Pensamos, por exemplo, em projectos desenvolvidos no ambiente do atelier. Sem nos afastarmos demasiado de Amadeo e da exposição que comissariou, detenhamo-nos, por um pouco, em Brancusi, com quem Amadeo conviveu em Paris, e na curadoria do seu trabalho. Ao longo de toda a sua vida, o escultor desenhou ao detalhe a inter-relação entre a produção de obras, a sua ocupação no espaço do atelier e a presença de um outro corpo – o do observador das relações entre as obras no espaço. É a partir deste triângulo que o Curador trabalha, a mesma geometria que Brancusi exaustivamente trabalhou, reconfigurou, pensou – um espaço quase coincidente com o da descrição, citada no catálogo, feita pelo curador Paulo Pires do Vale: uma exposição é a configuração de um espaço crítico. É reflexão, pensamento no espaço.[1] Partimos da presente exposição, que evoca e interpreta a comissariada por Amadeo, para uma conversa com artistas – com idades próximas da de Amadeo em 1916 – em torno de curadorias da sua própria autoria: projectos que seguem determinados protocolos por eles engendrados, e.g., práticas de atelier e a deslocação do espaço de produção; avizinhamento de genealogias e mapeamento de referências; a escrita e a montagem do pensamento criativo. Alguns destes momentos resgatados da prática destes quatro artistas serão expostos, pelos próprios, num diálogo ziguezagueante entre tempos, lugares e Pintura, numa conversa que é também uma forma de curadoria. [1] Raquel Henriques da SILVA e Marta SOARES (coord.), AMADEO DE SOUZA-CARDOSO / PORTO LISBOA / 2016–1916. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis/Blue Book, 2016, p. 41. |
Mariana Gomes
Pintar pode prejudicar gravemente a sua saúde, 2016. Óleo s/tela 50 x 60 cm Daniel Melim
Sem título, 2015 Acrílico sobre tela 100 x 90 cm Isabel Simões
Kite, 2011 Acrílico sobre papel. 126 x 120 x 15 cm Dealmeida Esilva
On the way to Mount Olympus, 2016 |